Análise: 'Me Chame Pelo Seu Nome' e o amor de verão
Call Me By Your Name, filme dirigido por Luca Guadagnino, é baseado no livro de mesmo nome que acompanha Elio (Timothée Chalamet), um jovem talentoso e poliglota que está aproveitando o verão em algum lugar no norte da Itália, na casa dos pais. Oliver (Armie Hammer) chega na casa para ajudar o pai do garoto em um estudo acadêmico, trazendo novas dinâmicas e tensões para Elio.
O filme vem sendo comparado como o Moonlight do ano (Ganhador do Oscar de melhor filme de 2017) Há similaridades, sim. Os dois se tratam de um romance homosexual, são estórias de amadurecimento e ambos carregam características muito fortes de sinestesia. Através de cores, enquadramentos, iluminação e músicas atmosféricas, o filme é capaz de criar sensações. Esse recurso é uma influência do diretor Chinês Wong Kar-Wai. Famoso por criar texturas no cinema e com filmes muito marcantes com o uso da culinária e da sensualidade não erotizada. Referência confessada de Barry Jenks (Moonlight) e nas entrelinhas de Call me By your name.
Porém, as diferenças aparecem no roteiro e nas condições dos personagens. Enquanto em Moonlight o protagonista sofre em um ambiente hostil, que mais tarde vai o forçar e o moldar a um comportamento que não o representa, Elio tem todo o suporte (emocional e financeiro) dos pais para viver o que ele quiser. Posição essa que vão manter até o final do filme. Então, o atrito e conflitos ficam mais concentrados na relação do que no meio.
O Filme todo é carregado de intelectualidade, com referência a cultura, arte, e história, e isso poderia criar uma barreria com o espectador se essa característica fosse central na narrativa, mas não é. Ela serve para contextualização do dia a dia dos personagens, mas o filme entende que essa não é o principal a ser abordado. O próprio Elio entende isso, quando reconhece que entende de muitas coisas, mas não das mais importantes.
A presença de Oliver em tela é notável, ele passa seu chame intelectual e físico. Somos apresentados pelo personagem pela perspectiva de Elio, com a câmera de cima, simulando a visão da janela. Cada um dos dois reagem aos seus sentimentos de um jeito diferente. Enquanto Elio se irrita, briga consigo mesmo e com seus sentimentos, Oliver, por mais que pareça ter controle de todos os seus movimentos, mostrando senso de auto-conciência e responsabilidade, vai mostrando sua vulnerabilidade aos poucos. O auge disso vai ser no final do filme, com uma revelação que vai mudar toda a perspectiva dos seus atos durante o filme.
SPOILERS
A descoberta do noivado de Oliver e que ele tinha um relacionamento enquanto estava tendo o caso romântico com Elio, mostra que o jovem também se deixou levar pelos sentimentos, tomando uma decisão irresponsável, levando a infidelidade. O take de Elio olhando para a lareira enquanto os créditos aparecem, foi filmada com a intenção de fechar o arco do personagem, onde ele passa pelo processo final de amadurecimento, aceitando sua história com Oliver e seu (momentâneo) desfecho. Ao ser chamado pelo seu próprio nome, o garoto remete ao amor de verão que viveu, se lembra do outro e de como isso será, para sempre, parte da sua história. A experiência, mesmo que rápida, foi real o marcou, assim como seu pai teve algo semelhante, mas não viveu isso de forma tão intensa.
Com um tom intimista e com um ritmo próprio, o filme é um retrato perfeito sobre a paixão de verão. As moscas são um símbolo recorrente, proposital ou não, desse sentimento efêmero, com data para acabar. Mas que, nem por isso, deixa de ser real.