top of page

Análise: 'Cowboy Bebop' e cinema noir


Cawboy bebop é um anime de 1998, dirigido por Shinichiro Watanabe, que acompanha um grupo de caçadores de recompensas que tentam sobreviver em um espaço divertido, violento e trágico.


Há uma infinidade de referências no anime, principalmente da cultura americana. Do cinema a literatura. Mas a que mais me chama a atenção é a referência ao Cinema Noir. As referências não param por aí. Do Wester, para ficção científica, Bebop parece ser uma carta de amor para a cultura Norte Americana, sem perder suas características ocidentais.


O cinema Noir se passou no período pós segunda Guerra, se baseando em livros de autores como Raymond Chandler, escritor de livros como: Longo Adeus (1953) e Big Sleep (1939). As Histórias acompanham detectives, geralmente em Los Angeles, lidando com policiais corruptos, gente muito ferrada na vida e mulheres atraentes e perigosas, mais tarde intituladas como Femme Fatal. Mas nenhum dos cineastas na época se preocuparam em criar um movimento ou uma série de regras. Críticos franceses, anos depois, que acharam filmes como, Falcão Maltês(1941), Pacto de Sangue (1944) e Fuga do passado (1947), como carregando o mesmo estilo e características. Dando nome a um estilo cinematográfico. Na década de 70 em diante, surgiram vários filmes tentando reproduzir essas características, vindo uma leva de Neo Noir como Chinatown (1974), Blade Runner (1982) e L.A. Cidade proibida (1997).


Olhando para Bebop com essas referências em mente, fica muito evidente todas essas influências. A começar da primeira cena do primeiro episódio. Escuro, violento, e um Jazz melancólico no fundo. Além de cigarro e muita fumaça. Já temos um clima Noir inserido na série em seus primeiros segundos.


Se colocarmos a mesma perspectiva nos personagens, temos Valentine como sendo um caso claro de Femmele Fatale. Uma mulher atraente, perigosa, e com um passado trágico. Na história de Jet, a referência não podia ser mais clara. Um ex-policial, que foi enganado pelos colegas de trabalho por ser muito honesto e querer saber demais. Sem contar com seu perfil detetivesco, de buscar informações através de informantes e algo mais racional. Enquanto em Spike, vemos alguém mais explosivo, trágico e disposto a resolver tudo na porrada se preciso. Outro lado muito comum no perfil de um detetive Noir.


Outro personagem muito importante nesse universo é o dinheiro. Tudo e qualquer coisa passa, diretamente ou indiretamente, pela falta ou pela ganância do mesmo. Em Bebop, diferente da maioria das animações, a presença e ausência do poder monetário é algo latente. Demora alguns episódios antes de ver a tripulação da nave ganhando algum dinheiro e a reclamação pela falta do mesmo é constante, a nível da praticamente faltar comida para eles. Trazendo também certo grau de plausabilidade quando um dos personagens fica preso no espaço por ter faltado gasolina.


Na trilha sonora, o Jazz é referenciado com Insistência, sempre que a séria precisa criar um clima mais melancólico ou pessimista ou dinâmica para as cenas de ação. Algo muito parecido com a abordagem Neo Noir dos últimos anos.


A fixação no passado é outro fator em comum. Em Bebop, todos os personagens tem alguma coisa a ser esquecida ou tratada no passado e cada um reage a seu modo. Seja como a Valentyne, que passa a dedicar tempo em busca dele, ou seja como a Ed, tão fechada consigo mesma (ou mesma?), que faz questão de ter um desprendimento emocional, tamanho medo em criar vínculos.


Dentro das referências noir em Bebop, a que mais me chama a atenção, é como ambas tratam a tragédia. Tragedia não no sentido grego da palavra, mas é a decisão de olhar histórias que não se pode fazer nada para mudar. Com a única opção de continuar e “Carry that weight”, como diz no último episódio de Bebop.


No pós Guerra, o ambiente politico não era muito otimista. Na década de 30 e 40, os Estados Unidos estavam passando pela grande depressão econômica do Pais. Não é muito difícil entender por que saiam histórias assim de lá. No filme Chinatown tudo o que ouvimos é “Esqueça Jake, é Chinatown”. E tudo o que o espectador pode fazer é continuar olhando a rua vazia, sem poder olhar para trás.


Em Bebop, não é diferente. No decorrer da série vemos várias histórias, e ao ver tudo aquilo, tudo o que podemos fazer é ir para a próxima, o próximo episódio, esperando que da próxima vez a história não seja tão trágica. E quando finalmente chegamos no Final da caminhada, não temos muito o que fazer. Independente do resultado, temos que continuar carregando o peso das histórias que vimos.


No final, tanto os filmes Noir quanto Bebop, nos fazem lembrar das histórias uns dos outros, que sempre vamos carregar.



Posts Em Destaque
Posts Recentes
Arquivo
Procurar por tags
Nenhum tag.
bottom of page